v e n t o s v e r d e s

minha mineira: êta, trem bão !

me perguntaram:
- Mazé, somos o que fazemos ou somos o que pensamos ?
respondi:
- Somos o "como" fazemos o que fazemos !

afinal, do que são feitas ?

nasci no ano de 1984
tudo está à nossas mãos, hoje em dia, homens civilizados
mas eu estranho água corrente, acho surreal abrir uma torneira e descer água dela, assim tão fácil. acho estranho ir ao mercado e escolher comida na prateleira. tudo tão fácil !
aí fico pensando em naturalidades e não-naturalidades. Será que fomos um dia natureza ?
estranho os ambientalistas, que abraçam a causa de árvores; estranho os não-carnívoros, que acham crueldade comer animais; estranhos os documentários sobre a vida animal; estranha a religião que tenho frequentado, cujos animais sacrificados não gritam, não choram antes de morrer (a teoria é que eles aceitam o destino e se oferecem em sacrifício). estranho eu, às vezes tranquilo, às vezes fora do mundo

a memória de minha infância é um tanto turva, confusa e distante pra mim, e hoje em dia entendo porque esqueci muitas coisas, mas algumas lembranças são marcantes, como a minha imagem da cidade de Queimados, aqui na Baixada.
a entrada da cidade é cheia de floreios e flores, com curvas desnecessárias e "rotatórias". me lembro de um dia ver um cavalo de pé, à beira da estrada. e meu pai me dizer que o cavalo estava morto, ali de pé.
na minha estranha memória infantil, me lembro claramente de passar por lá várias vezes, e ver o mesmo cavalo, morto, de pé, apodrecendo
nossa memória prega peças estranhas. ou queimados é um lugar estranho... não sei...

ok, o papa está no brasil
e todo a discussão sobre virgindade, e castidade, e aborto
engraçado, até parece que ele não viria falar sobre isso... nenhuma surpresa
então, vendo uma transmissão, mostrando uma grande fila de pessoas esperando pra beijar as mãos do papa, entre meus pensamentos (não-agressivos e respeitosos) de como discordo da doutrina e acho a Igreja Romana uma instituição decadente e como eles influenciaram negativamente toda a civilização ocidental; pensei: ei, a mão do papa deve ser cheirosa

quando me deito, quando pego ônibus, sempre penso em algo pra escrever aqui
mas pensamentos são arredios, fogem, escapam

"Herdeiros do fim do mundo
Queimai vossa história tão mal contada
No mais profundo riacho seco
Na mais alta casa do mundo
Na vastidão do teu olho
Na pancada do segundo
Suor de santa vela acesa
A língua hóstia consagrada
Sangue vinho do meu peito
Pés andor da dor cansada"

gosto de sutilezas, semi-tons, meias-luzes, nuances