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vinyänár

Filed Under () by Mazé Mixo on quinta-feira, 29 de abril de 2010

Posted at : 22:54

seu nome era enahuac.
o mundo era menor naquela época, e seu povo só conhecia as grandes montanhas de um lado, e o rio das pedras do outro.
não deveriam ir a lugares de onde não enxergavam as montanhas. não deveriam adentrar a floresta onde não podiam mais ouvir as águas do rio.
o jovem crescia a cada dia, e em breve deveria ser escolhido por uma mulher pra ser seu marido.
um dia procurava por raízes doces quando ouviu um canto que nunca tinha ouvido, e como que hipnotizado, correu por entre as árvores, parando apenas pra ter certeza que o canto estava mais próximo.
não percebeu que se afastara muito mais do que devia de seu rio e de seu povo.
as árvores que o rodeavam eram antigas, com folhas estranhas que exalavam cheiros que não conhecia.
chegou enfim a uma clareira, e o canto era agora completamente claro. voz de mulher. voz que parecia se multiplicar em muitas. voz de muitos pássaros.
ele tinha muita dificuldade de respirar, tanto por ter corrido por tanto tempo, tanto pela visão que lhe roubava o ar. uma jovem desnuda, com grandes asas, deitada na vegetação rasteira.
conhecia as estórias das vinyänáras, sabia o que aconteceria se se aproximasse demais. mas ao invés disso, caminhou até ela.
esqueceu-se quem era, esqueceu-se das canções e das cores. caiu em torpor e êxtase.
ela só cantava.
quando terminou ela virou-se para ver o que tinha atraído e viu o jovem caído sob as raízes entrelaçadas de umas das árvores azuis. não respirava.
ela retirou uma pena de sua asa e colocou nas mãos do jovem, que se encolheu, a tossir. um grande vendo levantou as folhas caídas de toda a clareira, e por alguns segundos nada pôde-se ver.
ele levantou-se, então, e sua cabeça era a de uma águia.
a vinyänára tomou-o em seus braços e alçou vôo.
sumiram nas nuvens, onde não se viam as montanhas nem ouvia-se o rio.

2 comentários:

The unknown human who sold the world disse...

Lindo. Tem que ter continuação. Me deu vontade de escrever outra história. Como sou chata, me incomoda algumas pontuações, queria te perguntar algumas coisas...

Anônima Loquaz, além de Enxerida disse...

Essa história é criação sua ou alguma lenda quéchua ... ou guarani?.....
sempre encontro alguns pontos de contato entre nós, americanos, e os celtas...
já tá virando mania...
Mas concordo com a continuação......
gostei bastante do desfecho, mas eu "viajo", vc já deve ter notado...
e leio Carlos Castañeda... O.O ... rs